O trabalhador rural, de 61 anos, dedicou mais da metade de sua vida ao cuidado e à preservação da fazenda e da região
O meio ambiente é um dos temas mais abordados atualmente em todo o mundo e como preservar esse recurso natural está entre os principais questionamentos do Poder Público e também das entidades de proteção ambiental. Pensando na importância da preservação, a Associação de Recuperação, Conservação e Preservação da Bacia do Guariroba (ARCP Guariroba) publica uma série de matérias com personalidades da região da Área de Proteção Ambiental (APA) do Guariroba, que se esforçam para resguardar o meio ambiente, com práticas sustentáveis e, desta forma, conservando os recursos fundamentais para a nossa sobrevivência, como a água. A intenção é que, através desta série e das experiências vividas por essas personalidades na APA do Guariroba, outras entidades e pessoas possam se inspirar e desenvolver atividades semelhantes em seus territórios. O destaque desta matéria é o trabalhador rural Aquiles Porcino de Araújo, que passou mais da metade de sua vida cuidando da Fazenda Guariroba.
"Se eu conseguisse acertar na loteria, eu compraria essa fazenda e deixaria essa área para os animais e aves. Não mexeria com mais nada, viraria uma grande reserva". Esse é o sonho do trabalhador rural Aquiles Porcino de Araújo, 61 anos, que trabalha e mora na fazenda Guariroba há 33 anos e dedicou mais da metade de sua vida ao cuidado e à preservação da fazenda e da região.
Nascido em Baianópolis, distrito do município de Corguinho, Aquiles perdeu o pai aos 10 anos de idade. Em 1.994, a mãe também faleceu após uma doença mental e, alguns anos depois, um dos cinco irmãos acabou morrendo pela mesma doença. "Cuidei dele por 10 anos e depois meu irmão mais velho, Manoel, foi trabalhar com o doutor João Pereira (advogado e produtor rural já falecido), em Camapuã", conta o trabalhador rural, explicando que acompanhou o irmão na mudança.
A história de Aquiles com a região do Guariroba começou quando o patrão de seu irmão resolveu trocar as terras de Camapuã pela fazenda Guariroba, em 1.989. "Vim embora para essa fazenda. No começo, foi um pouco difícil porque na época não tinha praticamente nada. Era tudo braquiária, eu que formei tudo na fazenda. Não tinha estrada, a estrada vinha pela fazenda Velho
Saltinho até a antiga fazenda Coxilha dos Pampas", afirma ele.
Das recordações de quando chegou ao local, o trabalhador rural destaca que era comum as pessoas colocarem fogo na região. "Era tudo limpo, a gente podia correr a cavalo no meio do mato, na beira do rio. Não tinha bicho, não via passarinho. Hoje, não consegue andar a cavalo e é proibido pôr fogo. Modificou muito, tem muitos animais e água", avalia Aquiles.
Também era comum, segundo ele, o gado beber água no rio. "Não existia bebedouro. Como não tinha mata, o acesso do gado era fácil. O córrego era muito assoreado, depois melhorou bastante. Tem mais água, apesar da pouca chuva nos último quatro anos", lembra.
A mudança, continua ele, veio com o plano de manejo, que reverteu o quadro "caótico" que estava na região."Todo mundo precisa ter consciência para preservar o que nós temos, que é a água, o benefício da água. Hoje, estou vendo muita lavoura ao redor de Campo Grande, estão acabando com as matas para colocar lavoura e é por isso que está essa seca. Tem que pensar na natureza. Nós que somos culpados disso, cortamos as árvores", reflete o trabalhador rural.
No meio da entrevista, Aquiles conta que é analfabeto e que, por este motivo, tem muitas dificuldades com as palavras. Mas, é na experiência vivida que ele traz as mais belas reflexões, exemplos de humildade e de uma vida dedicada à natureza. "Eu nasci na cabeceira do rio Aquidauana, conheci a cabeceira do rio Coxim. Meu pai era um homem alto, com quase dois metros de altura, ele atravessava o Aquidauana com água acima da boca e hoje a gente atravessa o Aquidauana com água na canela. É uma vergonha!", afirma ele.
Para o trabalhador rural, a região do Guariroba estava indo pelo mesmo caminho do rio Aquidauana. "Se não tivesse vindo o plano de manejo, hoje não conseguiria ter água nem para abastecer 10% da população (de Campo Grande). Tem que preservar, tem que cuidar. É uma maravilha conviver com a mata, com o rio e com os animais. Eu adoro isso aqui!! Vem anta, queixada, capivara, mutum. Tem árvore e pássaro que nunca tinha visto aqui e agora está aparecendo", finaliza ele.
* Aquiles Porcino de Araújo é trabalhador rural na fazenda Guariroba desde 1991.
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Aquiles Porcino de Araújo e a APA do GuarirobaAssociação de Restauração, Conservação e Preservação de produtores de água da Bacia do Guariroba.
Author:
ARCP Guariroba
O meio ambiente um dos temas mais abordados atualmente em todo o mundo e como preservar esse recurso natural est entre os principais questionamentos do Poder Pblico e tambm das entidades de proteo ambiental. Pensando na importncia da preservao, a Associao de Recuperao, Conservao e Preservao da Bacia do Guariroba (ARCP Guariroba) publica uma srie de matrias com personalidades da regio da rea de Proteo Ambiental (APA) do Guariroba, que se esforam para resguardar o meio ambiente, com prticas sustentveis e, desta forma, conservando os recursos fundamentais para a nossa sobrevivncia, como a gua. A inteno que, atravs desta srie e das experincias vividas por essas personalidades na APA do Guariroba, outras entidades e pessoas possam se inspirar e desenvolver atividades semelhantes em seus territrios. O destaque desta matria o trabalhador rural Aquiles Porcino de Arajo, que passou mais da metade de sua vida cuidando da Fazenda Guariroba.
"Se eu conseguisse acertar na loteria, eu compraria essa fazenda e deixaria essa rea para os animais e aves. No mexeria com mais nada, viraria uma grande reserva". Esse o sonho do trabalhador rural Aquiles Porcino de Arajo, 61 anos, que trabalha e mora na fazenda Guariroba h 33 anos e dedicou mais da metade de sua vida ao cuidado e preservao da fazenda e da regio.
Nascido em Baianpolis, distrito do municpio de Corguinho, Aquiles perdeu o pai aos 10 anos de idade. Em 1.994, a me tambm faleceu aps uma doena mental e, alguns anos depois, um dos cinco irmos acabou morrendo pela mesma doena. "Cuidei dele por 10 anos e depois meu irmo mais velho, Manoel, foi trabalhar com o doutor Joo Pereira (advogado e produtor rural j falecido), em Camapu", conta o trabalhador rural, explicando que acompanhou o irmo na mudana.
A histria de Aquiles com a regio do Guariroba comeou quando o patro de seu irmo resolveu trocar as terras de Camapu pela fazenda Guariroba, em 1.989. "Vim embora para essa fazenda. No comeo, foi um pouco difcil porque na poca no tinha praticamente nada. Era tudo braquiria, eu que formei tudo na fazenda. No tinha estrada, a estrada vinha pela fazenda Velho
Saltinho at a antiga fazenda Coxilha dos Pampas", afirma ele.
Das recordaes de quando chegou ao local, o trabalhador rural destaca que era comum as pessoas colocarem fogo na regio. "Era tudo limpo, a gente podia correr a cavalo no meio do mato, na beira do rio. No tinha bicho, no via passarinho. Hoje, no consegue andar a cavalo e proibido pr fogo. Modificou muito, tem muitos animais e gua", avalia Aquiles.
Tambm era comum, segundo ele, o gado beber gua no rio. "No existia bebedouro. Como no tinha mata, o acesso do gado era fcil. O crrego era muito assoreado, depois melhorou bastante. Tem mais gua, apesar da pouca chuva nos ltimo quatro anos", lembra.
A mudana, continua ele, veio com o plano de manejo, que reverteu o quadro "catico" que estava na regio."Todo mundo precisa ter conscincia para preservar o que ns temos, que a gua, o benefcio da gua. Hoje, estou vendo muita lavoura ao redor de Campo Grande, esto acabando com as matas para colocar lavoura e por isso que est essa seca. Tem que pensar na natureza. Ns que somos culpados disso, cortamos as rvores", reflete o trabalhador rural.
No meio da entrevista, Aquiles conta que analfabeto e que, por este motivo, tem muitas dificuldades com as palavras. Mas, na experincia vivida que ele traz as mais belas reflexes, exemplos de humildade e de uma vida dedicada natureza. "Eu nasci na cabeceira do rio Aquidauana, conheci a cabeceira do rio Coxim. Meu pai era um homem alto, com quase dois metros de altura, ele atravessava o Aquidauana com gua acima da boca e hoje a gente atravessa o Aquidauana com gua na canela. uma vergonha!", afirma ele.
Para o trabalhador rural, a regio do Guariroba estava indo pelo mesmo caminho do rio Aquidauana. "Se no tivesse vindo o plano de manejo, hoje no conseguiria ter gua nem para abastecer 10% da populao (de Campo Grande). Tem que preservar, tem que cuidar. uma maravilha conviver com a mata, com o rio e com os animais. Eu adoro isso aqui!! Vem anta, queixada, capivara, mutum. Tem rvore e pssaro que nunca tinha visto aqui e agora est aparecendo", finaliza ele.
* Aquiles Porcino de Arajo trabalhador rural na fazenda Guariroba desde 1991.