Série Protetores da água

O meio ambiente é um dos temas mais abordados atualmente em todo o mundo e como preservar esse recurso natural está entre os principais questionamentos do Poder Público e também das entidades de proteção ambiental. Pensando na importância da preservação, a Associação de Recuperação, Conservação e Preservação da Bacia do Guariroba (ARCP Guariroba) publica uma série de matérias com personalidades da região da Área de Proteção Ambiental (APA) do Guariroba, que se esforçam para resguardar o meio ambiente, com práticas sustentáveis e, desta forma, conservando os recursos fundamentais para a nossa sobrevivência, como a água. A intenção é que, através desta série e das experiências vividas por essas personalidades na APA do Guariroba, outras entidades e pessoas possam se inspirar e desenvolver atividades semelhantes em seus territórios. O destaque desta matéria é o engenheiro civil e produtor rural Wardes Antônio Conte Lemos.

"Eu sou caipira, eu gosto de mato, de roça e de cheiro do gado". A frase é do engenheiro civil e produtor rural Wardes Antônio Conte Lemos, casado com Maria Cristina, pai de três filhos -Adélia, Adriana e Thiago - e avô de cinco netos. Há 26 anos morando na Fazenda Crescente, na Área de Proteção Ambiental (APA) do Guariroba, Wardes lutou para preservar a área para que, no futuro, seus netos possam desfrutar de um local com mata e água em abundância, junto à natureza.
Acompanhado da família, o produtor rural adquiriu a Fazenda Crescente em maio de 1998. "Foi uma oportunidade de negócio. A gente queria uma área próxima de Campo Grande e essa fazenda, na época, tinha um inquérito civil e era conhecida como a fazenda da erosão. A gente comprou e nos propusemos a recuperar as áreas degradadas e preservar o meio ambiente", conta Wardes.

Ele explica que, quando adquiriu sua propriedade, as águas do Córrego Guariroba abasteciam 62% da população de Campo Grande e, com o tempo e o crescimento da população, esse índice foi diminuindo gradativamente. Em 1995, foi criada a APA do Guariroba e, no ano seguinte, os produtores rurais da região se uniram e criaram a Associação de Recuperação, Conservação e Preservação da Bacia do Guariroba (ARCP Guariroba). "A associação falava em nome de 62 produtores rurais na época porque, individualmente, a gente não era ouvido", relembra o produtor rural, revelando que também ocupou a presidência da ARCP Guariroba.

Para Wardes, o trabalho da associação junto com os produtores rurais gerou um resultado satisfatório com a recuperação de áreas degradadas e a preservação também das nascentes. "Eu tenho certeza que essa APA da Bacia do Guariroba não estaria como está hoje. Com o trabalho da associação e a gente trabalhando em conjunto tem um resultado positivo. Na minha área não se via verde e hoje a gente tem um verde abundante. A associação tem cumprido com seu dever, tem conseguido recursos para a recuperação das Áreas de Preservação Permanentes (APPs) e também a recuperação de pastagem. Tenho muito orgulho da gente ter participado e está participando da associação nesses 26 anos", avalia ele, lembrando que a associação tem o apoio de Ongs, como o WWF-Brasil, e do Ministério Público de Mato Grosso do Sul, que oferecem os recursos financeiros para a recuperação das APPs.

Na associação, segundo Wardes, a diretoria tem debatido pontos para melhorar o plano de manejo da APA do Guariroba, que foi aprovado pelo Conselho Gestor da APA e pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente. "Um pleito que a gente tem é notificar o produtor rural antes de multar, orientar nas boas práticas. Eu sei que está todo mundo fazendo, é caro de fazer e a gente precisa de um apoio. Um apoio palpável que nós tínhamos foi a criação da lei municipal instituindo o Pagamentos por Serviços Ambientais (PSA), mas que hoje não está sendo efetivado porque está faltando recurso, mas a gente continua sendo cobrado. Eu gostaria muito que a gente seguisse aqui o código florestal recente, que é a lei maior federal, porque o plano de manejo é restritivo, por exemplo, plantação de eucalipto, nós estamos num estado que a celulose vai ser uma forte fonte de economia e nós só podemos plantar eucalipto em 50% da área útil. Quem tem condição e área disponível poderia plantar 80%", exemplifica o produtor rural.

A dedicação e trabalho, que foram realizados em todos esses anos por Wardes e sua esposa, estão sendo passados para os filhos e, no futuro para os netos. "A gente está passando para os filhos continuar nosso trabalho. Eu gostaria muito que os meus filhos, que hoje estão me ajudando bastante aqui, e meu netos desfrutassem de tudo isso aqui. Acho que com o apoio de tecnologias e gestão da legislação fica mais fácil de trabalhar. Eu espero que meus netos, daqui a 15 ou 20 anos, estejam aqui falando e mostrando mais melhorias que fizeram. É o que eu sonho, é o que eu espero. Eu espero que eles curtam isso aqui, que usufruam, que gere receita pra eles. É o sonho do avô deles", finaliza o produtor rural.

*Wardes Antônio Conte Lemos é engenheiro civil, produtor rural e presidente da cooperativa de crédito Sicredi Campo Grande. Também faz parte da diretoria da ARCP Guariroba