O piscicultor, de 62 anos, restaurou sozinho grande parte da área de sua propriedade, a chácara Saltinho
O meio ambiente é um dos temas mais abordados atualmente em todo o mundo e como preservar esse recurso natural está entre os principais questionamentos do Poder Público e também das entidades de proteção ambiental. Pensando na importância da preservação, a Associação de Recuperação, Conservação e Preservação da Bacia do Guariroba (ARCP Guariroba) publica uma série de matérias com personalidades da região da Área de Proteção Ambiental (APA) do Guariroba, que se esforçam para resguardar o meio ambiente, com práticas sustentáveis e, desta forma, conservando os recursos fundamentais para a nossa sobrevivência, como a água. A intenção é que, através desta série e das experiências vividas por essas personalidades na APA do Guariroba, outras entidades e pessoas possam se inspirar e desenvolver atividades semelhantes em seus territórios. O destaque desta matéria é o piscicultor Clodoaldo Pinheiro Quito, que restaurou sozinho grande parte da área de sua propriedade, a chácara Saltinho.
A história do piscicultor Clodoaldo Pinheiro Quito, 62 anos, é um pouco diferente daquelas já contadas nesta série. Isso porque o final desta narrativa não é tão feliz como ocorreu nos demais relatos aqui descritos. A ligação de Clodoaldo com a região da Área de Proteção Ambiental (APA) do Guariroba começou há cerca de 50 anos. "Meu pai foi mexer com fazenda, acabou fazendo um mau negócio e perdendo. Tivemos uma (propriedade) nas Furnas do Dionísio (município de Jaraguari), plantou roça e não deu certo. Naquele tempo não tinha como negociar a dívida e tivemos que vender a fazenda porque estava penhorada no banco", relembra ele.
Com o recurso da venda da fazenda, continua Clodoaldo, seu pai comprou a chácara Saltinho, na região do Guariroba e uma vila de casas. "Essa chácara aqui era no meio do mato, só tinha Cerrado. Para se ter uma ideia, para vir aqui, a gente entrava no bairro Maria Aparecida Pedrossian, passava em frente a Lagoa Rica, ia sair na fazenda do Parzzianelo, de lá saía no cemitério que fica na entrada da APA e depois saia aqui", conta o piscicultor.
De acordo com Clodoaldo, a região do Guariroba era completamente diferente da atual, mesmo após a recuperação das matas ciliares. "Tinha água e mata para todos os lados. Era tudo brejo. Agora, está tudo seco. Mesmo fazendo a preservação, está diminuindo a quantidade de água aqui na cabeceira", afirma ele.
Para o piscicultor, o trabalho de restauração e preservação das Áreas de Preservação Permanentes (APPs) começou tardiamente. " Eu acho que essa preservação só na beirinha do córrego não vai adiantar nada. Tinham muitas lagoas aqui e todas secaram porque desmataram tudo, acabaram com o Cerrado. Daqui a 10, 15 anos, esse córrego estará seco", prevê Clodoaldo.
Outro motivo dessa previsão feita pelo piscicultor é a falta de chuvas na região. "Até isso mudou, não está chovendo como antes e quando chove, o córrego enche, no outro dia, você vai lá e parece que ele baixou mais que o normal. Não sei para onde vai essa água, não mantem mais. Quando cheguei aqui, tinha muito peixe porque antes não tinha barragem, hoje nem lambari você acha", compara ele.
Contrariando a frase que "uma andorinha só não faz verão", Clodoaldo conseguiu recuperar sozinho uma nascente que estava secando na sua chácara. "Marejava água, mas não tinha uma árvore e resolvi preservar porque naquele tempo podia entrar gado, pôr fogo para limpar. Só de Buriti eu plantei 120 mudas e gerou uma mata. Fui preservando e a água foi aparecendo e, no fim, ficou fundo", explica o piscicultor.
Quando chegou na chácara, Clodoaldo começou a trabalhar com olaria, já que na região tinham três estabelecimentos do setor em funcionamento. "Era tudo manual, naquele tempo não existia máquina e aqui não tinha luz. Eu atendia boa parte de Campo Grande com os tijolos que saíam daqui. Vendia para todos os depósitos, para construtoras. Tem muitos tijolinhos meus aqui em Campo Grande", brinca ele, que trabalhou neste setor por seis anos.
Depois da olaria, Clodoaldo passou a criar peixes, assim como outros proprietários rurais. A região do Guariroba foi transformada em Área de Preservação Ambiental (APA) em 1995 e em 1998 foi instituído o plano de manejo que aumentou de 30 para 50 metros a partir da área úmida a obrigatoriedade do cercamento das APPs, com isso os tanques tiveram que ser desativados e os piscicultores perderam sua atividade econômica. "Foi uma coisa muito errada. Já eram áreas consolidadas, tínhamos alvarás de funcionamento ativo, eu senti muito porque eu gosto da minha profissão, mas não posso exercer", lamenta ele.
Os locais onde funcionavam os tanques, conforme o piscicultor, estão secos. "Ficou só o sertão, só o buraco lá. Prejudicou os proprietários e também a natureza. Antes, você via marrecos, tuiuiús, existia muita vida. Acabou tudo isso. Também não gera renda, quanto que geraria de renda, comprando ração, vendendo os peixes?", contesta Clodoaldo.
No semblante do piscicultor, a esperança e a tristeza se misturam quando fala da sua profissão. "Meu sonho é no futuro criar peixes, mas não aqui. Eu sei criar peixe, sou um dos melhores. É difícil arrumar um lugar que tem água e vender aqui não compensa porque é muito pequeno", finaliza Clodoaldo.
* Clodoaldo Pinheiro Quito é piscicultor.
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Clodoaldo Pinheiro Quito e a APA do GuarirobaAssociação de Restauração, Conservação e Preservação de produtores de água da Bacia do Guariroba.
Author:
ARCP Guariroba
O meio ambiente um dos temas mais abordados atualmente em todo o mundo e como preservar esse recurso natural est entre os principais questionamentos do Poder Pblico e tambm das entidades de proteo ambiental. Pensando na importncia da preservao, a Associao de Recuperao, Conservao e Preservao da Bacia do Guariroba (ARCP Guariroba) publica uma srie de matrias com personalidades da regio da rea de Proteo Ambiental (APA) do Guariroba, que se esforam para resguardar o meio ambiente, com prticas sustentveis e, desta forma, conservando os recursos fundamentais para a nossa sobrevivncia, como a gua. A inteno que, atravs desta srie e das experincias vividas por essas personalidades na APA do Guariroba, outras entidades e pessoas possam se inspirar e desenvolver atividades semelhantes em seus territrios. O destaque desta matria o piscicultor Clodoaldo Pinheiro Quito, que restaurou sozinho grande parte da rea de sua propriedade, a chcara Saltinho.
A histria do piscicultor Clodoaldo Pinheiro Quito, 62 anos, um pouco diferente daquelas j contadas nesta srie. Isso porque o final desta narrativa no to feliz como ocorreu nos demais relatos aqui descritos. A ligao de Clodoaldo com a regio da rea de Proteo Ambiental (APA) do Guariroba comeou h cerca de 50 anos. "Meu pai foi mexer com fazenda, acabou fazendo um mau negcio e perdendo. Tivemos uma (propriedade) nas Furnas do Dionsio (municpio de Jaraguari), plantou roa e no deu certo. Naquele tempo no tinha como negociar a dvida e tivemos que vender a fazenda porque estava penhorada no banco", relembra ele.
Com o recurso da venda da fazenda, continua Clodoaldo, seu pai comprou a chcara Saltinho, na regio do Guariroba e uma vila de casas. "Essa chcara aqui era no meio do mato, s tinha Cerrado. Para se ter uma ideia, para vir aqui, a gente entrava no bairro Maria Aparecida Pedrossian, passava em frente a Lagoa Rica, ia sair na fazenda do Parzzianelo, de l saa no cemitrio que fica na entrada da APA e depois saia aqui", conta o piscicultor.
De acordo com Clodoaldo, a regio do Guariroba era completamente diferente da atual, mesmo aps a recuperao das matas ciliares. "Tinha gua e mata para todos os lados. Era tudo brejo. Agora, est tudo seco. Mesmo fazendo a preservao, est diminuindo a quantidade de gua aqui na cabeceira", afirma ele.
Para o piscicultor, o trabalho de restaurao e preservao das reas de Preservao Permanentes (APPs) comeou tardiamente. " Eu acho que essa preservao s na beirinha do crrego no vai adiantar nada. Tinham muitas lagoas aqui e todas secaram porque desmataram tudo, acabaram com o Cerrado. Daqui a 10, 15 anos, esse crrego estar seco", prev Clodoaldo.
Outro motivo dessa previso feita pelo piscicultor a falta de chuvas na regio. "At isso mudou, no est chovendo como antes e quando chove, o crrego enche, no outro dia, voc vai l e parece que ele baixou mais que o normal. No sei para onde vai essa gua, no mantem mais. Quando cheguei aqui, tinha muito peixe porque antes no tinha barragem, hoje nem lambari voc acha", compara ele.
Contrariando a frase que "uma andorinha s no faz vero", Clodoaldo conseguiu recuperar sozinho uma nascente que estava secando na sua chcara. "Marejava gua, mas no tinha uma rvore e resolvi preservar porque naquele tempo podia entrar gado, pr fogo para limpar. S de Buriti eu plantei 120 mudas e gerou uma mata. Fui preservando e a gua foi aparecendo e, no fim, ficou fundo", explica o piscicultor.
Quando chegou na chcara, Clodoaldo comeou a trabalhar com olaria, j que na regio tinham trs estabelecimentos do setor em funcionamento. "Era tudo manual, naquele tempo no existia mquina e aqui no tinha luz. Eu atendia boa parte de Campo Grande com os tijolos que saam daqui. Vendia para todos os depsitos, para construtoras. Tem muitos tijolinhos meus aqui em Campo Grande", brinca ele, que trabalhou neste setor por seis anos.
Depois da olaria, Clodoaldo passou a criar peixes, assim como outros proprietrios rurais. A regio do Guariroba foi transformada em rea de Preservao Ambiental (APA) em 1995 e em 1998 foi institudo o plano de manejo que aumentou de 30 para 50 metros a partir da rea mida a obrigatoriedade do cercamento das APPs, com isso os tanques tiveram que ser desativados e os piscicultores perderam sua atividade econmica. "Foi uma coisa muito errada. J eram reas consolidadas, tnhamos alvars de funcionamento ativo, eu senti muito porque eu gosto da minha profisso, mas no posso exercer", lamenta ele.
Os locais onde funcionavam os tanques, conforme o piscicultor, esto secos. "Ficou s o serto, s o buraco l. Prejudicou os proprietrios e tambm a natureza. Antes, voc via marrecos, tuiuis, existia muita vida. Acabou tudo isso. Tambm no gera renda, quanto que geraria de renda, comprando rao, vendendo os peixes?", contesta Clodoaldo.
No semblante do piscicultor, a esperana e a tristeza se misturam quando fala da sua profisso. "Meu sonho no futuro criar peixes, mas no aqui. Eu sei criar peixe, sou um dos melhores. difcil arrumar um lugar que tem gua e vender aqui no compensa porque muito pequeno", finaliza Clodoaldo.
* Clodoaldo Pinheiro Quito piscicultor.