Série Protetores da água

Victor Luiz Barbosa e a APA do Guariroba

Publicado em 08 de Dezembro de 2024

O engenheiro agrônomo nasceu e foi criado na Fazenda Paraíso, onde seu avô tinha enterrado seu umbigo para que ele se prendesse ao local


O meio ambiente é um dos temas mais abordados atualmente em todo o mundo e como preservar esse recurso natural está entre os principais questionamentos do Poder Público e também das entidades de proteção ambiental. Pensando na importância da preservação, a Associação de Recuperação, Conservação e Preservação da Bacia do Guariroba (ARCP Guariroba) publica uma série de matérias com personalidades da região da Área de Proteção Ambiental (APA) do Guariroba, que se esforçam para resguardar o meio ambiente, com práticas sustentáveis e, desta forma, conservando os recursos fundamentais para a nossa sobrevivência, como a água. A intenção é que, através desta série e das experiências vividas por essas personalidades na APA do Guariroba, outras entidades e pessoas possam se inspirar e desenvolver atividades semelhantes em seus territórios. O destaque desta matéria é o engenheiro agrônomo Victor Luiz Barbosa, que nasceu e foi criado na Fazenda Paraíso.

Já pensando no futuro, o produtor rural Valter Ferreira Barbosa enterrou o umbigo do neto Victor Luiz Barbosa atrás da janela do quarto da sede da Fazenda Paraíso, localizada na Área de Proteção Ambiental (APA) do Guariroba, que ele tinha comprado um ano antes do neto nascer. "Logo que eu nasci, meu avô, com os costumes antigos, disse: esse guri tem que firmar na fazenda, esse aqui vai ficar pra história e enterrou meu umbigo atrás da janela do quarto dele, como diziam, que é pra fincar as origens", conta Victor.

Aos 27 anos e casado com Brenda Costa, Victor acredita que a crença se tornou realidade já que mora e cuida da fazenda até hoje. "Minha origem começou aqui. Eles já viveram em outras propriedades, mas aqui é para história, para posterioridade da próxima geração", completa ele. Da infância, Victor guarda muitas recordações, principalmente dos córregos. Ele conta que sua família não desmatou a área de reserva, mas que o gado aproveitava algumas entradas nos córregos ou áreas de mina para beber água direto da fonte. "Essas áreas de córregos, as chamadas Áreas de Preservação Permanente (APPs), não tinham ainda leis de proteção", comenta o agrônomo.

Mesmo antes da implantação dessas leis, Victor explica que já dava para perceber as consequências do uso dos córregos pelo gado. Ele lembra que formavam valetas nos locais onde o gado ia tomar água e, desta forma, começava a aparecer erosão, causando assoreamento do córrego. "Depois de dois ou três anos, quando víamos que a área estava ficando estranha, a medida que a gente tomava era cercar aquela área e mudar o local que o gado bebia água. Com as leis, a gente começou a entender um pouco mais de meio ambiente, desses manejos até vir o plano de manejo e a obrigatoriedade de APP", acrescenta ele.

Para Victor, a partir desse momento, foram adquiridas pilhetas (bebedouros) para o gado e as áreas dos córregos foram fechadas para evitar o assoreamento. "A gente começou com o cercamento de 30 metros da APP e depois veio o plano de manejo e mudou para 50 metros da APP para conseguir preservar ainda mais essa região de mata ciliar das nascentes. No começo, tivemos bastante serviço, teve uma certa resistência até entendermos a real necessidade de toda essa preservação que, hoje, a gente vê que fez muita diferença", afirma o agrônomo.

Uma dessas diferenças, segundo Victor, é o aumento no volume de água nas nascentes. "Era um volume considerável de água. Agora, com o reflorestamento, a área úmida aumento muito na fazenda. Nossa área úmida era em torno de 5 a 10 metro nas margens dos rios e agora tem área que já está chegando a 50 metros. Então, todo esse manejo aumentou bastante a produção de água", avalia ele.

Após a implantação das leis e do plano de manejo, continua o agrônomo, a Associação de Recuperação, Conservação e Preservação da Bacia do Guariroba (ARCP Guariroba) foi fundamental para os produtores rurais da região. "A associação tem veterinário, agrônomo, biólogo e advogados. Esse conjunto nos dá mais força, mais credibilidade, mais ânsia de querer crescer e mais auxílio também. A gente participando da associação, cria um vínculo, um vizinho vai ajudando o outro, a gente se uniu mais", diz Victor.

Sobre a nova geração, ele é categórico em afirmar que vem para fortalecer a pecuária moderna. "É utilizar a área da melhor forma possível, não vê só como meio de produção, produzir gado e vender. A nova geração vem mais pra isso, para intensificar e integrar a preservação, a produção e o meio ambiente. Posso dizer que a Fazenda Paraíso já é uma propriedade sustentável. Eu acredito que essa visão é o futuro, não tem como continuar trabalhando do modo antigo, tem que buscar essa pecuária diferenciada", finaliza Victor.

* Victor Luiz Barbosa é engenheiro agrônomo e autua no ramo de consultoria e também presta serviço para o Senar.

Victor Luiz Barbosa e a APA do Guariroba Associação de Restauração, Conservação e Preservação de produtores de água da Bacia do Guariroba.
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O meio ambiente um dos temas mais abordados atualmente em todo o mundo e como preservar esse recurso natural est entre os principais questionamentos do Poder Pblico e tambm das entidades de proteo ambiental. Pensando na importncia da preservao, a Associao de Recuperao, Conservao e Preservao da Bacia do Guariroba (ARCP Guariroba) publica uma srie de matrias com personalidades da regio da rea de Proteo Ambiental (APA) do Guariroba, que se esforam para resguardar o meio ambiente, com prticas sustentveis e, desta forma, conservando os recursos fundamentais para a nossa sobrevivncia, como a gua. A inteno que, atravs desta srie e das experincias vividas por essas personalidades na APA do Guariroba, outras entidades e pessoas possam se inspirar e desenvolver atividades semelhantes em seus territrios. O destaque desta matria o engenheiro agrnomo Victor Luiz Barbosa, que nasceu e foi criado na Fazenda Paraso. J pensando no futuro, o produtor rural Valter Ferreira Barbosa enterrou o umbigo do neto Victor Luiz Barbosa atrs da janela do quarto da sede da Fazenda Paraso, localizada na rea de Proteo Ambiental (APA) do Guariroba, que ele tinha comprado um ano antes do neto nascer. "Logo que eu nasci, meu av, com os costumes antigos, disse: esse guri tem que firmar na fazenda, esse aqui vai ficar pra histria e enterrou meu umbigo atrs da janela do quarto dele, como diziam, que pra fincar as origens", conta Victor. Aos 27 anos e casado com Brenda Costa, Victor acredita que a crena se tornou realidade j que mora e cuida da fazenda at hoje. "Minha origem comeou aqui. Eles j viveram em outras propriedades, mas aqui para histria, para posterioridade da prxima gerao", completa ele. Da infncia, Victor guarda muitas recordaes, principalmente dos crregos. Ele conta que sua famlia no desmatou a rea de reserva, mas que o gado aproveitava algumas entradas nos crregos ou reas de mina para beber gua direto da fonte. "Essas reas de crregos, as chamadas reas de Preservao Permanente (APPs), no tinham ainda leis de proteo", comenta o agrnomo. Mesmo antes da implantao dessas leis, Victor explica que j dava para perceber as consequncias do uso dos crregos pelo gado. Ele lembra que formavam valetas nos locais onde o gado ia tomar gua e, desta forma, comeava a aparecer eroso, causando assoreamento do crrego. "Depois de dois ou trs anos, quando vamos que a rea estava ficando estranha, a medida que a gente tomava era cercar aquela rea e mudar o local que o gado bebia gua. Com as leis, a gente comeou a entender um pouco mais de meio ambiente, desses manejos at vir o plano de manejo e a obrigatoriedade de APP", acrescenta ele. Para Victor, a partir desse momento, foram adquiridas pilhetas (bebedouros) para o gado e as reas dos crregos foram fechadas para evitar o assoreamento. "A gente comeou com o cercamento de 30 metros da APP e depois veio o plano de manejo e mudou para 50 metros da APP para conseguir preservar ainda mais essa regio de mata ciliar das nascentes. No comeo, tivemos bastante servio, teve uma certa resistncia at entendermos a real necessidade de toda essa preservao que, hoje, a gente v que fez muita diferena", afirma o agrnomo. Uma dessas diferenas, segundo Victor, o aumento no volume de gua nas nascentes. "Era um volume considervel de gua. Agora, com o reflorestamento, a rea mida aumento muito na fazenda. Nossa rea mida era em torno de 5 a 10 metro nas margens dos rios e agora tem rea que j est chegando a 50 metros. Ento, todo esse manejo aumentou bastante a produo de gua", avalia ele. Aps a implantao das leis e do plano de manejo, continua o agrnomo, a Associao de Recuperao, Conservao e Preservao da Bacia do Guariroba (ARCP Guariroba) foi fundamental para os produtores rurais da regio. "A associao tem veterinrio, agrnomo, bilogo e advogados. Esse conjunto nos d mais fora, mais credibilidade, mais nsia de querer crescer e mais auxlio tambm. A gente participando da associao, cria um vnculo, um vizinho vai ajudando o outro, a gente se uniu mais", diz Victor. Sobre a nova gerao, ele categrico em afirmar que vem para fortalecer a pecuria moderna. " utilizar a rea da melhor forma possvel, no v s como meio de produo, produzir gado e vender. A nova gerao vem mais pra isso, para intensificar e integrar a preservao, a produo e o meio ambiente. Posso dizer que a Fazenda Paraso j uma propriedade sustentvel. Eu acredito que essa viso o futuro, no tem como continuar trabalhando do modo antigo, tem que buscar essa pecuria diferenciada", finaliza Victor. * Victor Luiz Barbosa engenheiro agrnomo e autua no ramo de consultoria e tambm presta servio para o Senar.